As vezes a ausência faz esquecer. Ainda que temporariamente.
As voltas na cama imensa, mais imensa que real. As pálpebras cansadas por se forçarem a estar cerradas. A inquietude no coração. O caos no pensamento.
A rendição ao estender a mão para acender a luz e puxar para si a caneta e o papel.
A posição desconfortável.
O não pensar - o ser movido, guiado. O não estar ali sequer. O não saber nada.
Palavras de noite, papel de luar.
Sem motivos. Sem contextos. Sem destinatários. Sem intenções.
Continuo a achar que não tenho nada para dizer, no entanto.
Saudades deste movimento. Saudades deste som - a tinta desenhada no papel rugoso (escolhido propositadamente para esse efeito). O som da escrita num arrepio.
A saudade de mim nestas linhas negras cortando o branco pálido da minha solidão.
Vivo este papel e esta tinta que me mancha os dedos. A forma que têm as palavras - umas mais que outras.
Onde me encontro sempre. Onde sou sempre recebida.
E reparam que, mais uma vez, não disse nada?
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