domingo, 29 de julho de 2012

A mulher

Vi-a várias vezes... A mulher que eu dizia ser uma mulher-avó.Era velha. Ou estava velha.O cabelo grisalho, corte masculino, sem forma, como se o tivesse cortado ela mesma. A pele escura.Enrugada. Suja. O corpo magro, magro de fome, coberto por roupas demasiado gastas, como a pele,e sem forma, como o cabelo. Roupas sem estação. Vi-a a caminhar, sempre.Mas não como quem percorre um caminho. A caminhar como quem não tem caminho. Nem destino. Nem sequer um ponto de partida. Caminhava. Voltava para trás.E eu não percebia.Doía-me a ausência daquela história. Doía-me vê-la.Doía-me senti-la em mim. Ver-me nela num tempo em que o tempo não existisse.Num tempo em que a brisa morna de um pós por de sol ja nao me acariciasse a pele, e já não me trouxesse nenhum encanto, nenhuma magia.Doía-me senti-la lúcida, presente em cada passo. Mais ainda... A consciência de caminhar sem caminho. A consciência de morrer antes do corpo, com um peito que ainda aguenta um bater constante. A consciência de não sentir.De não sentir nada.
E ainda assim caminhar.