sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A cabana



Era tarde. Saiu da casa principal pela porta traseira que dava para o jardim. Deixou para trás o silêncio e fechou a porta devagar. Voltou as costas à casa, encheu o peito e avançou cortando a noite.
Percorreu, na escuridão, o trilho por entre os abetos quase por intuiçao. Pisando a terra molhada, as folhas e pequenos ramos caídos. A toda a volta sentia a presença, em movimentos subtis nas árvores, de criaturas que não distinguia, de olhos que nao via, e, por todo o lado a ser observada. Continuou, sentindo-se uma verdadeira pioneira desbravando a noite passo a passo. Ao longe via a silhueta do seu destino. Ou naquele caso, do seu refugio - a cabana.
Chegou até á cerca de madeira, e ás apalpadelas la abriu o cadeado. O barulho causou algum rebuliço por entre as ovelhas que dormiam, ali, mais perto do que julgara. Voltou a fechar o cadeado atras de si e voltou-se em direccão á porta da cabana. A chave paciente na fechadura. Rodou-a e a porta abriu, sem esforço. La dentro a unica missão era encontrar e acender uma vela. Mesmo á entrada. Tudo a correr bem. Assim que se fez chama todos os objectos ganharam vida. Nas tres pequenas janelas o reflexo daquela chama multiplicado. A dança coreografada em plena harmonia. 
Com as mãos coladas ao vidro olhou e conseguiu ver as estrelas. Só. Nada mais se via ou adivinhava.
A cama, perfeita, aconchegou-a num calor e conforto só até ali sonhados.
Lá fora o ar frio e quase rarefeito, como tu, as vezes. 
Naquele instante pensou: Isto é tudo o que existe. Isto e o vento la fora que o ouço. Nada mais. Nem o mundo, nem as estrelas, nem as ovelhas e nem tu nem o teu peito ou a tua voz a sussurrar-me ao ouvido. E nem o frio lá de fora, que vinha das tuas mãos, existe, afinal.
Isto, aqui, neste momento, comigo dentro, é tudo o que existe.
E era verdade. 

Sem comentários:

Enviar um comentário