terça-feira, 10 de agosto de 2010

Se te encontro no fundo de mim

Estava preparada!
Levava força, coragem e determinação. Entrei pela porta em arco, feita de pedra e de tempo.
Não hesitei. Também não tinha pressa.
Ao passar o arco, o sol desceu. O lusco-fusco!
Iniciei a descida, palavra a palavra.
Só não tive medo porque me apoiava na sensação de que me olhavas.
A minha mão deslizava suave mas firme. Segura.
Fui descendo mais palavras sentindo-as sob os meus pés descalços.
O ar que eu inspirava estava cheio de tempo.
Enchia o peito como se o quisesse guardar para sempre.
 E fui descendo, descendo, e parecia não ter fim...
 Não sabia, então, que o infinito também asfixia.
Continuei a descer quando de repente a mão caiu no vazio.
Refiz-me do pequeno desequilíbrio, e continuei.
Fui sentindo o esforço da descida aumentar.
Como se o espaço entre cada palavra fosse cada vez maior.
E era. Já não conseguia descer como até então. Tinha que saltar sobre um vazio que eu não via.
E saltava. E caía. E cada vez mais levava mais tempo nesta queda.
Cada nova palavra era mais difícil de atingir.
E naquele que eu não sabia ser o último salto, já sem a meia-claridade,
O chão não veio.
E por isso não caí. Podia mover-me e tocar, se houvesse mais que vazio. Mas não havia.
Tinha chegado ao lugar onde não me olhavas, onde não me tocavas.
Tinha chegado ao lugar onde eu não existia.